As pinturas negras de Goya
As 14 pinturas que formam o conjunto denominado de Pinturas Negras foram feitas na fase final da vida do pintor, pintadas diretamente sobre as paredes de sua casa, conhecida como a Quinta del Sordo, nos arredores de Madrid e às margens do rio Manzanares. São chamadas assim porque Goya usou pigmentos escuros e negros em temas que também são sombrios. Ele pintou diretamente sobre as paredes de sua casa, com óleo. Depois de sua morte, anos depois, estas pinturas foram trasladadas das paredes para telas, um trabalho que durou anos e foi realizado por Salvador Martinez-Cubells, que era restaurador do Museu do Prado. Goya já estava velho e doente. E como tinha sido um ativo militante dos ideais explicitados pela Revolução Francesa, ele também era perseguido. Talvez o peso das expressões, dos gestos e da temática geral deste conjunto de pinturas tão carregadas de preto estejam na própria fragilidade de um corpo doente e que envelhecera, o que fazia sofrer Goya. Em 1819 ele foi atingido por uma grave doença que lhe deixou muito prostrado e à beira da morte. Mas sua fragilidade se devia também ao fato de que a instabilidade em que se via a Espanha após o levante constitucional de Fernando Riego, o fizera se resguardar. Ele tinha sido um grande crítico da vida política e social de seu país, não só através da sua pintura, mas principalmente como gravador e caricaturista. Satirizou a religião com suas romarias, procissões e rituais incentivados pela Santa Inquisição; reagiu contra a invasão do exército francês na Espanha em 1808; criticou o Estado espanhol.
As Pinturas Negras foram feitas por Francisco Goya entre 1820 e 1823. Nelas há figuras de homens em duelo, padres, freiras e os esbirros da Inquisição. Para ele este mundo já tinha sido ultrapassado pelos ideais novos, pelos tempos novos trazidos pela Revolução Francesa. Talvez pintando estas cenas dentro de sua casa estava livre da censura de qualquer tipo, podendo fazer o que bem entendesse, como entendesse. Por isso que essas imagens, essas 14 pinturas, são tão fortes e parecem significar um manifesto do artista contra todo conservadorismo. Em maio de 1823, tropas de soldados invadem Madrid com o objetivo de restaurar a monarquia de Fernando VII. A repressão foi imensa a todos os que se opunham à monarquia. Francisco Goya, temendo por sua vida, resolveu ir embora da Espanha, se refugiando na cidade de Bordeaux, na França, chegando lá em 1824. Desenhou muito ainda nesse período de exílio, que durou até sua morte. Nos desenhos dessa fase final de sua vida há o predomínio de figuras das classes mais humildes e dos marginalizados, assim como figuras de velhos, como um que caminha com a ajuda de uma bengala, barba longa, ar cansado. Dizem que seria seu autorretrato da época, pois o título deste desenho Goya colocou como "Ainda aprendo". Francisco de Goya y Lucientes morreu em Bordeaux, França, no dia 16 de abril de 1828. Sobre ele, escreveu Charles Baudelaire no poema "Os Faróis", presente na coletânea As Flores do Mal:
Goya, lúgubre sonho de obscuras vertigens, De fetos cuja carne cresta nos sabás, De velhas ao espelho e seminuas virgens, Que a meia ajustam e seduzem Satanás
A série, a cujos óleos Goya não pôs título, foi catalogada em 1828 pelo amigo de Goya Antonio Brugada[1] e compõe-se das seguintes telas: Átropos ou As Parcas, Dois velhos ou Um velho e um freire, Dois velhos comendo sopa, Duelo a bordoadas ou A rixa, El Aquelarre, Homens lendo, Judite e Holofernes, A romaria de Santo Isidro, Mulheres rindo, Peregrinação à fonte de Santo Isidro ou Procissão do Santo Ofício, Perro semi-hundido ou mais simplesmente El Perro ("O cão"), Saturno devorando um filho, Uma manola: Dona Leocadia Zorrilla e Visão fantástica ou Asmodea.